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Indústria Cosmética

Mudam os tempos, mudam as necessidades

PMMEDIA Pub.
Poucos devem saber que, durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill considerou o batom vermelho um bem de primeira necessidade, tendo até decretado que este seria distribuído com a mesma assiduidade que a farinha para fazer pão, por aumentar a autoestima das mulheres e, consequentemente, a moral dos homens. Parece uma piada? Mas não é. Os economistas até deram nome ao fenómeno. Chamaram-lhe Lipstick Index ou Efeito Batom, porque ilustrava bem o facto de, em períodos de constrangimento social e económico, os consumidores, principalmente as mulheres, continuarem a comprar produtos que os fizessem sentir bem e que lhes dessem uma certa sensação de ‘normalidade’.
Curiosamente, pela primeira vez desde então, aconteceu uma crise em que o Efeito Batom não se verificou. A COVID-19 obrigou o mundo a usar máscaras e com metade da face coberta, as vendas de cosméticos caíram drasticamente, mais propriamente no setor dos batons e também dos perfumes. Devido ao confinamento e ao teletrabalho, o convívio presencial quase não se verificou. Isso, aliado a um desânimo e receio generalizados, faz com que esses produtos ligados à socialização sofressem pouca procura. Só mais tarde, já com o uso da máscara bastante incrementado, se passou a investir mais na área dos olhos, a única zona facial que escapava à proteção. Mas é como dizem, o mundo arranja sempre forma de se compensar. Em comparação, no mesmo período pandémico, todos os artigos relacionados com os cuidados de higiene registaram um aumento nunca antes observado. Sabonetes, gel de banho, pasta de dentes, entre outros, foram procurados devido à massiva difusão da mensagem de que a higienização, por exemplo das mãos, ajudava a travar a transmissão do vírus. Em França, o mercado dos sabonetes de luxo chegou a crescer 800% na semana de 16 de março de 2020, logo no início da pandemia. E, a seguir, a lavagem e higienização sucessiva das mãos começou a evidenciar a necessidade de hidratação, o que impulsionou o mercado dos cremes.

Em França, o mercado dos sabonetes de luxo chegou a crescer 800% na semana de 16 de março de 2020

Ainda durante o primeiro confinamento, com o encerramento de grande parte dos estabelecimentos, as pessoas viram-se obrigadas a fazer em casa procedimentos que por norma faziam em salões e spas, como manicure, pedicure, corte e colorações de cabelo ou depilações. Houve então um crescimento de vendas de alguns cosméticos, principalmente coloração capilar (+172%) e kits para as unhas (+218%), segundo dados da Amazon sobre o mercado americano.
Aconteceu também que, como a maioria das pessoas comprava online, e tendo também mais tempo para o fazer, passaram a querer informar-se melhor sobre os produtos que adquiriam. Foi assim que a indústria da cosmética passou também a ser mais escrutinada, ao nível das fórmulas, dos ingredientes e obviamente do resultado. Uma vez que a segurança passou a ser uma prioridade na vida das pessoas, a cosmética passou a obedecer a regras ainda mais apertadas. 
Também a importância do tipo de embalagem ganhou relevância na seleção dos produtos. Sem uma deslocação às lojas, a imagem das embalagens percecionada através dos meios digitais foi crucial. Não só se tornaram mais resistentes como o público começou a pressionar para que fossem também mais ecológicas. Outra temática que a COVID-19 trouxe para o palco foi essa necessidade urgente de cuidarmos do planeta, impulsionando, ainda mais, a sustentabilidade nesta indústria, principalmente por parte dos jovens, que passaram a preferir a beleza com ética e o consumo consciente.
A pandemia serviu ainda para o consumidor dar mais atenção à sua pele. O tempo em casa e o maior investimento em cada um de nós mudou o foco para a manutenção da pele natural e saudável.
O autocuidado continua no topo das prioridades dos consumidores, valorizando-se tudo o que traga alegria e serenidade à vida. O site Zalando, um dos maiores no setor das vendas online de moda e lifestyle na Europa, registou um crescimento de 300% na categoria de produtos de autocuidado, aromaterapia e produtos detox.
Apesar de a indústria cosmética estar numa posição privilegiada comparativamente a outras áreas de consumo, estes dois anos abalaram o mercado. Mas o benefício mais importante desta indústria teve um boost no que toca à forma como ela nos faz sentir, mesmo sem o uso de batom. E se há coisa que toda a gente quer hoje, mais do que nunca, é sentir-se bem. 

T. Filomena Abreu
F. Direitos Reservados