Fazenda Camicundo Agropecuária
Produzir, descascar e vender
Situada em Camacupa, província do Bié, a Fazenda Camicundo Agropecuária está vocacionada para a produção de arroz, descasque e ensacamento para venda. A comandar todas as operações, está o engenheiro agrónomo, Pedro Marques, que nos revela o processo: «Tudo é mecanizado, a começar pelo nivelamento do terreno, que tem de ficar sem socalcos. Isto é realizado por um sistema de laser, a sementeira é também executada por máquinas, tal como a aplicação de herbicidas e fungicidas e, por fim, a ceifa. A única intervenção humana é na condução das máquinas». Aplainar a terra é talvez o maior segredo da plantação de arroz, já que esta cultura se desenvolve em terreno semiaquático, por isso, muito atrativa para infestantes, e, sendo a linha de água constante, é mais eficaz o seu controlo.
A espécie do cereal utilizada é originária do Brasil e o diretor-geral explica a razão: «A semente do nosso arroz, que é tipo agulha, é uma variedade brasileira que tem tido um excelente melhoramento genético». Esta unidade agroindustrial quer inverter a dependência da importação de arroz, num curto espaço de tempo, e já tem provas de que vai no caminho certo. «Em 2020 cultivámos cerca de 820 hectares e tirámos perto de 6200 toneladas. Para a nova colheita perspetivamos chegar às sete mil, e estamos também a terminar novas áreas, o que fará com que a produção seja maior», destaca Pedro Marques, acrescentando que «estamos a desenvolver uma sementeira e duas colheitas».
«A única intervenção humana é na condução das máquinas»
Em termos de área, a Fazenda Camicundo Agropecuária apresentará em breve dois mil hectares que irão resultar numa safra de 15 mil toneladas de arroz. «Para este trabalho contamos com quatro ou cinco trabalhadores, porque tudo é mecanizado, porém, como estamos a operar numa nova área produtiva, temos agora perto de 80 trabalhadores, a maioria nacionais, embora haja alguns expatriados para trabalhos específicos, como as aplicações de produtos no terreno».
Este cereal começa a ser semeado em agosto, terminando em meados de novembro, no entanto é possível estender até janeiro, e a apanha tem início, por norma, em fevereiro. Mas, durante estes meses, há processos que decorrem ao mesmo tempo, como fertilizar e combater pragas ou outros invasores.
Dos campos avistam-se, ao longe, os grandes silos para armazenamento, indicando que a fábrica está perto, e o engenheiro agrónomo, especialista em arroz, esclarece que «depois da apanha, o cereal vai para um secador, ainda com casca, e, quanto mais se baixar a sua humidade, maior e o tempo de conservação. Depois é armazenado e entra na fábrica, após limpeza, segue para a máquina de descasque e, já sem casca, é branqueado, momento em que é retirado o tegumento – a parte mais nutritiva do arroz que, por norma, serve para farinha –. Depois, é polido, separado por categorias e embalado».
«Estamos a desenvolver uma sementeira e duas colheitas»
Existe nesta fazenda um excedente de casca de arroz, porém com um nobre destino: «Entregamos a casca que sobra nos bairros em redor, porque tem pequenos pedaços, a trinca, que, tal como a farinha, acredito que seja para alimentação e uma parte para venda, gerando uma renda extra. Também é normal doarmos arroz», refere o diretor da fazenda. «Sempre que podemos, ajudamos a comunidade e agora estamos a reabilitar a estrada que vai dar à aldeia do Txinani, já fizemos um campo de futebol e os pequenos cursos de água, resultantes das valas, acabam por ser viveiros de peixes, que podem ser consumidos e que os miúdos vão lá pescar». A água para a rega do arroz é oriunda de valas, primárias e secundárias, onde se encontram diques que servem de proteção às cheias dos rios, mas tal como tudo há sempre um trabalho primário com máquinas para que a água, da vala terciária, mantenha os arrozais alagados.