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Catarino Pereira

«O sector da Logística e Transportes irá desenvolver-se fortemente na próxima década em Angola»

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Amante de Fórmula 1, NBA, torneios de golfe e grandes ligas de futebol, Catarino Pereira é um PCA que gosta de viver a vida ao ritmo alegre da pátria. A família é a sua maior alegria e acompanhar os netos o seu maior orgulho. Kizomba e Sambe são as danças de eleição e uma boa música faz alegrar o seu coração. Dentro da Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística de Angola, Catarino preenche o seu tempo com aquilo que o fascina: a Logística. Em conversa com a V&G, o engenheiro explica a missão da ARCCLA, revelando os planos da entidade e mencionando os desafios que a pandemia lhe trouxe. De olhar atento, Catarino comenta as debilidades, a nível nacional, do serviço em que opera, frisando também o desafio da implementação da sustentabilidade na cadeia Logística. Apesar das fragilidades, o Presidente do Conselho de Administração mantém-se positivo, prevendo desenvolvimento significativo do setor já nos próximos 10 anos.
Conte-nos a história da Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística de Angola (ARCCLA), como e quando surgiu?
A ARCCLA resultou da fusão de duas Entidades agora extintas: o Conselho Nacional de Carregadores (CNC) e o Gabinete do Corredor do Lobito (GCL).Surgiu pela necessidade de existir em Angola um órgão regulador das atividades logísticas, com uma visão transversal e autónoma sobre os diferentes setores, e que permitisse suportar os diferentes modos de transporte - aéreo, marítimo, ferroviário e rodoviário -, estabelecendo-se como uma entidade facilitadora do processo de transformação do setor da Logística em Angola. Desde a sua criação, a ARCCLA tem vindo a implementar novas atribuições, tendo desenvolvido um conjunto de iniciativas das quais se destacam o estabelecimento de uma estratégia de longo-prazo e a implementação de políticas de recursos humanos e gestão de talento; o desenvolvimento de diplomas e regulamentos necessários à regulação do setor logístico; entre muitas outras.

Qual é a missão da agência?
A ARCCLA tem por missão regular, fiscalizar e supervisionar as atividades logísticas, plataformas logísticas e matérias conexas, bem como as operações de tráfego de mercadorias por vias marítima, terrestre e aérea. No âmbito das suas atribuições e dos seus fins, pretende ainda contribuir para a melhoria da eficiência e da competitividade da República de Angola.

Ocupa o cargo de PCA da ARCCLA. Sabemos que tem uma sólida experiência de liderança, qual é o segredo para o sucesso?
Não sei se posso considerar sucesso, mas se acreditarmos em Deus e se tivermos sempre pensamento positivo, os desafios, a seu tempo, são ultrapassados de forma eficaz. Em muito jovem, aprendi que é necessário ser audaz, perspicaz, resiliente, sempre com o espírito de fazer o melhor para o próximo, porque o próximo um dia serás tu.Perante o ambiente complexo e imprevisível em que as organizações vivem atualmente, perceber e definir que conceito de liderança aplicar em cada momento, de uma forma autêntica e pessoal, é, cada vez mais, um fator determinante para o sucesso. Talvez seja este o "segredo” do sucesso. Todas as pessoas, a todos os níveis, tornam-se líderes em algum momento das suas vidas, seja no âmbito pessoal ou profissional. Esse é um momento que pode fazer toda a diferença no futuro e, por isso, conhecer-se é fundamental para alcançar os resultados pretendidos, bem como motivar os seus colegas e pares para cumprir aquilo que é proposto. Na minha opinião, para garantir uma liderança eficaz, é essencial demonstrar firmeza e segurança, agir de forma correta e saber como gerir novas situações, trabalhar em equipa, ser dinâmico e motivador, ter atitude, compromisso, conhecimento e domínio sobre o que se faz. 

O que suscitou o interesse pela área?
Acreditar em Angola, acreditar na visão e liderança do projeto. Era importante mudarmos o paradigma de que a Logística era apenas Distribuição. Muito cedo, tive o desafio de apoiar o desenvolvimento do shipping em Angola e, mais tarde, na especialidade dos derivados dos produtos petrolíferos na indústria marítima. O shipping compreende o embarque, despacho e transporte de mercadorias por navios, pelo que, a partir daí, surge a ligação com a visão da Logística, que permite gerir os fluxos e os recursos necessários ao longo de uma cadeia produtiva. Posto isto, podemos entender como é feito o conjunto de atividades para entregar um determinado produto ao cliente final, no tempo certo e sem desperdícios. É esta a atividade que a ARCCLA pretende regular, supervisionar e fomentar, mas agora numa perspetiva de contributo e visão nacional.

 «No total, a ARCCLA pretende co-investir até $100 milhões de USD em infraestruturas de base»
Que desafios trouxe a pandemia para a ARCCLA?
A pandemia trouxe desafios internos, nomeadamente, ao nível da adaptação ao teletrabalho, assim como desafios externos. A Logística mundial e a atividade dos operadores foram muito afetadas, o que, naturalmente, condicionou a atuação de reguladores logísticos como a ARCCLA. Adicionalmente, a dificuldade em reunir presencialmente com stakeholders logísticos restringiu a implementação das novas atribuições e a concretização de projetos previstos. No entanto, adaptámo-nos à nova realidade, implementado todas as medidas necessárias, e o progresso acabou por ser recuperado, tendo já sido desenvolvido um conjunto de iniciativas que colocam a ARCCLA novamente no caminho de adoção das suas novas funções. 

Quais são as metas traçadas pela entidade para daqui a cinco anos?
Os objetivos estratégicos da ARCCLA no horizonte 2030 assentam em quatro pilares de atuação: regulação, supervisão e fiscalização das Atividades Logísticas e Controlo do Tráfego; dinamização da RNPL e dos corredores de desenvolvimento; modernização do sector e das Atividades de Transporte e Operacionalização e valorização da ARCCLA.
Temos, ainda, metas até 2025 que assentam na implementação das seis plataformas logísticas da Rede Nacional de Plataformas Logísticas, aprovadas pelo MINTRANS, num modelo de parceria público-privada entre a ARCCLA e operadores logísticos. A concretização das plataformas logísticas constitui o principal marco da ARCCLA desde a sua criação, pelo impacto no comércio nacional e internacional, na dinamização da produção e criação de emprego. No total, a ARCCLA pretende co-investir até $100 milhões de USD em infraestruturas de base, estando o investimento privado em fase de negociação.

Considera que este ramo está devidamente desenvolvido no país?
O sector da Logística e Transportes irá desenvolver-se fortemente na próxima década em Angola, com a consolidação da Rede Nacional de Plataformas Logísticas (RNPL), permitindo aos agentes económicos optar pela externalização das atividades logísticas (receção, armazenagem, embalamento, picking, expedição, etc.) a empresas especializadas. Mas, no presente, as grandes indústrias optam por desenvolver as suas próprias infraestruturas logísticas, ao passo que as pequenas e médias empresas estão dependentes de intermediários e transportadores para fazer chegar o produto ao mercado, gerando sobrecustos para o consumidor final e a degradação da margem dos negócios. Num estudo recente sobre a Logística rural, identificámos perdas de até 50% da produção, causadas pelas debilidades do serviço logístico. Angola carece de meios de transporte e armazenagem a temperatura controlada, até para permitir a certificação internacional e exportação da produção agroalimentar.

Qual é o contributo que a ARCCLA oferece à economia de Angola?
A nossa expectativa é contribuir para uma maior transparência nas trocas comerciais, separando devidamente o que é o contrato de fornecimento, do serviço de Logística e Transporte. A modernização do setor logístico permite aos agentes económicos aceder a novos mercados (domésticos e internacionais), sendo prioritária a sua capacitação e qualificação tecnológica. Para esse efeito, a ARCCLA está a trabalhar no projeto da Janela Única Logística, que facilitará a troca de informações relativas à carga em trânsito, permitindo melhorar qualidade do serviço desde o Porto, Armazém Aduaneiro, Plataforma Logística e outras instalações. Adicionalmente, a ARCCLA tem a responsabilidade pela promoção dos Corredores de Desenvolvimento (e.g. Lobito), no contexto da extinção do Gabinete do Corredor do Lobito. Contamos ter um papel ativo na captação de investimento para esses corredores, uma vez que o Acordo de Comércio Livre subscrito por Angola irá potenciar a movimentação de carga (import-export) entre Angola e SADC, uma vez eliminadas as barreiras aduaneiras.

«A sustentabilidade das operações é um desafio integral para a cadeia logística»

Que papel assume a sustentabilidade no controlo das operações de comércio?
A sustentabilidade das operações é um desafio integral para a cadeia logística, que é como um sistema circulatório do comércio. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas são relevantes por mapearem alguns dos pontos de esforço em que temos de trabalhar globalmente para garantir um futuro sustentável. A ARCCLA alinha-se e trabalha com aqueles que dependem de uma cadeia logística eficiente para o efeito, tais como o nº 8, salários dignos e crescimento económico, o nº 9, indústria, inovação e infraestruturas, ou o nº 17, promoção de parcerias público-privadas.
T. Joana Rebelo
F. Edson Azevedo