Qual a sua opinião sobre esta nova crise da guerra na Europa que está a causar uma escalada nos preços das matérias-primas e até escassez?
Em Angola é uma questão paradoxal. Apesar de os preços já se fazerem sentir nas importações nos mercados europeus, Angola apresenta ainda uma forte dependência das receitas do petróleo, estando o mesmo em alta neste momento. Ou seja, se por um lado, sofremos as consequências das importações serem mais caras, no que toca a transportes marítimos e aéreos, por outro, o país tenderá a ganhar com a subida do preço do petróleo. Portanto, não é possível, neste momento, perspetivar, a curto prazo, o que poderá acontecer, nem em Angola, nem na nossa atividade, até porque prefiro manter uma opinião neutra, em que se perde, por um lado, mas em que, por outro, podemos eventualmente registar uma alavancagem da economia que permita ao Estado reforçar os seus investimentos públicos.
Considera que o mercado angolano valoriza critérios como a qualidade de construção, eficiência energética, sustentabilidade e soluções técnicas inovadoras?
Diria que se começa a considerar esses fatores como algo essencial. Já se olha para estes temas com a naturalidade com que, na Europa, os mesmos são tratados. Angola é ainda um país jovem, com pouco menos de 50 anos pós-independência e, portanto, qualquer mudança que ocorra num mercado mais desenvolvido é importada praticamente de imediato para o país. Existe, porém, um longo caminho para percorrer. Independentemente disso, temos como princípio, no caso da Tecnovia, aplicar os standards da indústria, reconhecidos a nível mundial. Somos uma empresa certificada, operamos em mercados em que a qualidade é uma condição indiscutível, assim como a sustentabilidade que, cada vez mais, tem um peso fundamental na economia. Recordo que, há 20 anos, as preocupações com segurança e ambiente ainda eram algo incipientes. Em Angola, estes conceitos estão perfeitamente interiorizados, sabendo que há ainda muito por fazer. Quem investir na implementação destas componentes, quer sejam empresas diretamente ligadas a essas áreas ou empresas que, como a nossa, as utilizam como forma de apoio à sua gestão, está certamente no bom caminho.
E como vê a Tecnovia daqui a dez anos?
Certamente uma das mais reconhecidas, não necessariamente em termos de dimensão, mas pela sua credibilidade, pela qualidade daquilo que fazemos, pelo empenho dos seus colaboradores. Sabemos que a imagem da empresa é transmitida em primeira instância pelos nossos colaboradores, pelo que, se não conseguirmos passar a nossa mensagem, a nossa cultura e a nossa forma de estar no mercado, não conseguiremos certamente passar essa credibilidade ao cliente.
E quem é o Ricardo fora do mundo da gestão da Tecnovia?
Sempre contestei a ideia das pessoas que são workaholics, mas efetivamente dou por mim – uma vez que vivo sozinho em Angola (a família está em Portugal) –, nos poucos tempos livres – que se resumem praticamente ao tempo do jantar e aos fins de semana –, a trabalhar, entre visitas a obras e respostas a emails. Acabo por não ter um período reservado para fazer desporto e conviver, pois passo o meu tempo quase sempre a trabalhar ou a pensar no trabalho. Quando se faz aquilo de que se gosta, efetivamente, perde-se a noção do tempo. E o facto de ter a família longe dá-me abertura para me focar no trabalho. Por vezes, dou por mim a enviar mensagens às onze da noite, algo que abominava completamente.