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Exposição Laurie Anderson

Uma viagem de épocas 

PMMEDIA Pub.
Ark - Cloud, 2023
Um ser multifacetado. Ela é compositora, intérprete, autora, ativista, cineasta... E ainda pioneira da música eletrónica, talento que a levou a um maior reconhecimento internacional. Laurie Anderson é uma figura lendária na arte de vanguarda. Ela emprega expressões atemporais, como a voz, a pintura ou os desenhos a carvão, originando narrativas que entrelaçam observações sobre a condição humana, os sonhos das nações, a visão sobre o futuro. Tudo isto pode ser visto em diferentes partes da produção multifacetada da artista.
Aos curiosos, que estejam a planear visitar a cidade de Malmö, na Suécia, deixamos o convite para a exposição Absent in the Present: Looking into a Mirror Sideways, 1975 (Ausente no Presente: Olhando Para um Espelho de Lado, 1975), no Moderna Museet, até dia 3 de setembro de 2023 – uma mostra com curadoria de Lena Essling.

Em 2016, recebeu o Prémio Coragem de Yoko Ono para as Artes, pela obra Habeas Corpus
Ark - Commotion, 2023
«Onde estamos? O que é tempo? Quem é o dono da história?», são questões existenciais às quais a exposição procura responder, com a seleção de obras da artista, incluindo performance, fotografia e vídeo. Em parte das suas obras, Anderson questiona o sujeito e a sua identidade, os papéis que assumimos e nos são atribuídos.
Laurie nasceu numa família de oito filhos, em Glen Ellyn, Illinois, nos Estados Unidos. Estudou pintura e tocou violino na orquestra juvenil de Chicago. Mudou-se para Nova Iorque em 1966, onde estudou escultura com o artista minimalista e conceitual Sol LeWiltt. Colaborou com os pioneiros da música artística, como Philip Glass e John Cage e o músico e produtor Brian Eno. Além disso, publicou vários livros e lançou sete álbuns, entre eles Big Science, com a música O Superman, que se tornou um sucesso internacional. Anderson é artista residente no Australian Institute for Machine Learning (AIML) e dá aulas de poesia na Harvard University.

Anderson recebeu um Grammy em 2018
Laurie Anderson
E, agora, apresentamos-lhe, nas linhas que se segue, os vários momentos que compõem a sua exposição:
Instruments and Performance (Instrumentos e Performance): a voz e a música são a base do trabalho da artista, desde a década de 1970, pelo que a fala, as pausas e o ouvir são essenciais para as suas composições e manifestações artísticas, que são influenciadas pela geometria, pela linguagem e sons do quotidiano. Com o decorrer dos anos, ela foi combinando música com performance, filme e inovação técnica, que resultaram em produções teatrais multimédia como a United States I–IV (1983) ou a ópera Moby Dick (1999).
Language and Memory (Linguagem e Memória): aficionada pelo trabalho escrito e narrativo, Laurie sempre demonstrou interesse pela linguagem e pelos media. Para ela, «a linguagem é um sistema autogerador, que nunca controlamos totalmente, pois ele toca-nos como um instrumento». Este momento da exposição procura apresentar o quanto a Inteligência Artificial (IA) de hoje é capaz de gerar automaticamente textos a partir de diferentes fontes, imitando o tom e estilo individual. A forma como escolhemos as nossas palavras, em determinados momentos, ou a forma como narramos uma experiência moldam a nossa memória e identidade. Por isso, parte das obras desta sala representam perceções da artista sobre o poder das palavras. 
Exhibition view, 2023
Persona (Pessoa): Laurie olhou as décadas de 1960 e 1970 de Nova Iorque como um ambiente turbulento e criativo, que mais tarde chegou a comparar com as vibrações de Paris dos anos 1920. Inspirada pelo movimento internacional Fluxus, e destacando ideias que iam além dos objetos de arte tradicionais, a rua tornou-se no seu estúdio. Algumas das primeiras obras de Anderson foram esculturas em materiais simples ligados ao corpo. Por exemplo, a When You We're Hear é uma escultura sonora que só pode ser testada pela pessoa que a toca. 
To The Moon (Para a Lua): em colaboração com o artista taiwanês Hsin-Chien Huang, esta sala mostra uma jornada humana individual entre a vida e a morte. Liberdade, aventura e peregrinação estão presentes no espaço. Um retrato da capacidade humana relativo à transição que passa do sonho para a visão do mundo racional e científico, ao lado de crenças espirituais. Nesta sala, a artista emprega a tecnologia da Realidade Virtual (RV) que nos transporta para um lugar além do mundo físico. Quem entra na experiência faz uma passagem pela superfície enigmática da Lua, com referências à mitologia grega, literatura, ciência, cinema e política. Em 2002, Anderson foi convidada pela NASA como a primeira artista residente da agência espacial dos EUA.

Laurie foi curadora de vários grandes festivais, incluindo o Vivid Festival em Sydney (2010) e o Meltdown Festival no Royal Festival Hall, em Londres (1997)
Ark - The Ark, 2023
Time and Body (Tempo e Corpo): depois do 11 de setembro, Laurie encenou uma manifestação, junto com Mohammed el Gharani (nascido em 1986), que retratava a história de um jovem prisioneiro, acusado de planear um ataque terrorista aos 12 anos e que esteve na Prisão de Guantánamo, sendo libertado e deportado para os EUA em 2009. O título da obra, Habeas Corpus, é uma mensagem de proteção contra a prisão arbitrária. Em 2015, durante um espetáculo com Anderson, o ‘jovem’ contou a sua história. A obra destaca o quanto a política pode transformar os indivíduos em peões de jogo. Quando a sua identidade lhes é roubada, não há tempo nem memória que apague isso. Neste sentido, a artista tem criado esculturas falantes, espécies de hologramas analógicos.
Ark (Arca): Laurie fala para entender o mundo. Na sua história, traz as suas experiências, que também se baseiam em obras literárias, mitologia e ciência. Um pedaço dessa história está retratado na sua última ópera Ark, que tem estreia prevista para 2024, na cidade de Manchester. Uma obra baseada na história da Arca de Noé. Várias figuras e fenómenos históricos, assim como contemporâneos, da arte aparecem neste épico, onde há mais perguntas do que respostas. 
Por isso, agora, perguntamos nós: ficou a vontade de olhar e pensar. Ausente no Presente?
Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. Mattias Lindbäck