Villas&Golfe Angola
· Economia&Negócios · · T. Redação · F. Edson Azevedo

António Henriques da Silva

«A AIPEX é uma instituição com elevada responsabilidade no país» 

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Aos cinco anos já falava três línguas. Hoje, fala 9. Desde cedo se viu obrigado a crescer depressa devido às vicissitudes que os seus pais enfrentaram na luta pela liberdade. Depois de se formar na ex-Jugoslávia, voltou a Angola para colocar ao serviço da Nação os seus conhecimentos. Paulatinamente foi dando mostras do seu espírito de líder. O seu objetivo é levar ao sucesso das suas equipas, já que só assim se pode falar em crescimento verdadeiramente forte e seguro. O PCA da AIPEX – Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola tem bem claras as metas dos próximos tempos. E todas eles assentam em resiliência e solidez. Este executivo pretende diversificar a empresa de forma que todo o potencial que Angola tem possa ser aproveitado ao máximo.
Como foi a sua infância e juventude, épocas em que terá cimentado os pilares do homem e profissional de sucesso em que se tornou? 
A minha infância, em muitos aspetos, foi desafiante porque desde o início comecei a encarar a vida com enormes desafios visto que, na altura, eu e as crianças que tivessem os pais envolvidos na luta de libertação acabaram por crescer em circunstâncias muito diferentes daquelas que hoje a maior parte das crianças vive no nosso país. A natureza da vida de quem tinha como realidade a troca frequente de lugares, sem condições para crescer e para ter uma educação não é igual à que temos hoje. Certamente que, como balanço, podemos dizer que esses desafios nos prepararam melhor para o nosso futuro, logo trazemos experiências que se caracterizaram por privacidade, vicissitudes, mas também uma grande resiliência que acaba por ser importante para a construção de uma pessoa que se sinta confortável em procurar ser melhor e deste modo poder contribuir.

O que o levou a escolher a licenciatura de Engenharia Eletrotécnica na especialidade de Telecomunicações e Sistemas de Informação e a fazê-la na Universidade de Zagreb, na Croácia? 
A decisão de obter a licenciatura de Engenharia Eletrotécnica na especialidade de Telecomunicações e Sistemas de Informação no fundo foi por influência do meu pai, que apesar de ser militar era arquiteto por formação. E, como ele na altura se encontrava num país que já não existe, a ex-Jugoslávia, achou que se eu fosse tirar um curso ligado por exemplo à economia ou finanças que isso se calhar, por causa das especificidades de cada ambiente em que essa economia era aplicada, poderia não ser o melhor exemplo que eu pudesse, fora daquele país, continuar a trabalhar. Foi assim que então, como também sou bom com números e com ciências exatas, acabei por optar por Engenharia Eletrotécnica de Telecomunicações em Sistema de Informação, que não me arrependo porque me ajudou muito a aprender a adaptar-me às diferentes funções que eu ocupei a nível profissional e empregos que fui arranjado ao longos dos anos. 

Quando e como surgiu a primeira e mais sérias oportunidades de trabalho? 
Quando regressei a Angola, em 1996, quatro meses mais tarde, comecei a trabalhar numa multinacional, a Texaco, este foi o meu primeiro emprego. E tenho de certo modo que agradecer a um colega e amigo de infância, Paulo Pizarro, que já estava a trabalhar nesta empresa, e me incentivou a submeter, na altura, o meu CV à referida empresa, culminando dias depois com a minha contratação por aquela entidade. 

«A AIPEX tem também responsabilidades acrescidas a nível internacional também»
Alguma vez sonhou chegar tão longe profissionalmente?
Primeiro, eu não defino a minha carreira profissional com níveis de alcances ligados a hierarquia dentro das organizações, porque a minha maior motivação sempre foi inspirar os outros e não ser um executivo de topo ou um presidente de conselho administração. Contudo, sempre tive uma preocupação em fazer bem o meu trabalho e deixar um legado, independentemente da função que exerci durante os meus anos enquanto profissional, e acho que neste caso concreto o que resultou como objetivo alcançado foi mais uma questão de reconhecimento de determinadas competências e da experiência que fui acumulando ao longo dos anos. Por referências às mesmas foram surgindo os cargos com as responsabilidades que eu ocupo. 

Fala fluentemente 8 línguas. Pode dizer-se que tem uma paixão e aptidão para os idiomas ou trata-se de um investimento profissional?
Eu não falo fluentemente 8 línguas, falo 9. Línguas essas que são resultado de uma vivência desde muito cedo com a língua que não a língua materna, neste caso o português. Posso também somar a essas outras que ao longo dos anos, infelizmente, acabaram esquecidas porque não as pratiquei. Mas ainda constam do meu subconsciente. Acredito que mais do que o investimento foi sempre uma vontade virada para a necessidade de comunicação, a necessidade de interação, e de aproximação a culturas diferentes, distinta daquela que é a nossa, por forma a quebramos barreiras. O facto de falamos uma língua diferente da língua materna faz com que consigamos estar melhor inseridos em qualquer meio e, ao longo dos anos, eu fui começando a gostar de falar essas línguas e acabei por notar que afinal esse talento tinha ficado. E aqui também há um outro elemento interessante que tem a ver com o próprio funcionamento do cérebro humano. Aos cinco anos eu já falava três línguas (português, swahili e inglês), o que tornou o processo de aprendizagem de outras línguas mais fácil. 
Como encara a missão de ser o PCA da AIPEX?
 Esta missão encaro com muita responsabilidade porque tenho noção do papel importante que a AIPEX desempenha neste quadro de transformação da nossa economia, em que o nosso executivo pretende diversificá-la de forma que todo o potencial que Angola tem possa ser aproveitado ao máximo. Não é uma tarefa fácil, não é o resultado de apenas uma entrega pessoal, mas de uma entrega coletiva de todas as pessoas que estão envolvidas nesse trabalho, nessa missão. E certamente que se vê mais facilmente por esse sentido ser partilhado por vários dos meus colegas a quem devo também muito pelos resultados, e pela visibilidade que eu enquanto Presidente do Conselho de Administração acabo por ter. Juntos acabamos por ser cada vez mais capazes de conduzir a bom porto a missão que me foi incumbida. 

De que forma a sua experiência de 22 anos, com passagem por vários setores e atividades, públicos e privados, se converte numa liderança de sucesso à frente da AIPEX? 
Não me sinto digno de criar significados ou interpretações sobre o processo geral de liderança. Mas, em resumo, considero a liderança como uma oportunidade para ver o melhor de cada pessoa que faz parte da nossa equipa e manter o espírito de grupo vivo e no auge, especialmente quando estamos diante de dificuldades e com necessidades de tomar decisões difíceis, mas necessárias. A AIPEX é uma instituição com elevada responsabilidade no país e não só. Esta instituição já teve outros responsáveis e cada um jogou o seu papel em momentos extremamente diferentes. Por isso, sinto-me um felizardo por ter sido o primeiro PCA da APIEX, hoje AIPEX, uma casa que conheço desde o princípio da sua existência, depois de ter transitado da ANIP. É um orgulho para mim ter oportunidade de partilhar com homens, mulheres e jovens que fazem parte desta grande equipa de trabalho. Sem eles, estar à frente da instituição não teria significado. É bom quando temos a oportunidade de aprender e partilhar os nossos conhecimentos e, acima de tudo, poder ser importante e significante no momento quando alguém precisa de nós. 

«É uma honra para nós assumir a primeira presidência deste Fórum dos PALOP»

Como é que a AIPEX tem contribuído para o fomento da economia de Angola? 
Como disse, A AIPEX é uma instituição com elevada responsabilidade no país. O nosso foco é apoiar o crescimento de uma economia diversificada e estável, mediante o fomento da produção nacional, substituição de importações, incremento e diversificação das exportações para que Angola participe de forma significativa e competitiva na economia global. Para isso, a AIPEX persegue valores como o rigor, diligência e precisão no cumprimento da lei, integridade, respeito, transparência, imparcialidade e excelência. A AIPEX é o interlocutor único do investidor em todas as fases do processo de investimento, através da articulação institucional apoia os investidores, acompanha as propostas de investimento e assegura as condições para a boa execução dos projetos de investimento. 
As nossas atribuições incluem a promoção e captação de investimentos privados de origem interna e externa suscetíveis de contribuir para o desenvolvimento socioeconómico do nosso país. Assegurar a receção e acompanhamento das propostas de investimento privado a realizar em Angola; Promover a captação de investimento direto estrangeiro para os sectores estratégicos da economia nacional; Promover o incremento e diversificação das exportações de produtos e serviços de Angola; Contribuir para a criação de condições propicias para a realização de investimento privado em Angola; Supervisionar e controlar a execução dos projetos de investimento privado aprovados; Executar políticas e programas de substituição das importações e aumento das exportações. 
A AIPEX tem também responsabilidades acrescidas a nível internacional também. Enquanto agência de investimento nacional, detém a presidência do Fórum das Agências de Comércio e Investimentos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (PALOP), constituída em fevereiro deste ano (2022). É uma honra para nós assumir a primeira presidência deste Fórum dos PALOP, que tem uma missão árdua de ajudar na atracão de mais investimentos e promover o comércio entre os países membros.  

A Indústria em Angola é fundamental para o desenvolvimento do país e das suas gentes. Como olha para todos estes anos de industrialização, nos vários sectores, e que futuro esperamos?
 As empresas industriais contribuem para aumentar a inovação e a evolução da tecnologia de qualquer país, desta forma sendo responsáveis pela criação dos maiores números de postos de trabalho, Angola tem vindo a se desenvolver no sector industrial de forma gradual e a um ritmo considerado agradável tendo em conta as condições que afetaram todas as economias nos últimos anos a nível global, relativamente ao futuro, o mesmo afigura-se harmonioso por conta das propostas de investimento em avaliação pela AIPEX e o recente projeto de energia fotovoltaica para Angola anunciado Presidente Norte Americano, Joe Biden. 
A título de exemplo, desde 2018 até maio do presente ano, a indústria é o sector que mais temos projetos de investimento privado registados com 201 projetos, avaliados em cerca de USD 2.400.000.000,00 (dois mil, quatrocentos milhões de dólares americanos). 
De que forma a guerra na Ucrânia, que está a afetar economicamente o mundo, poderá refletir-se no futuro da AIPEX e no mercado económico do país?
A guerra na Ucrânia deve desacelerar o crescimento global em mais de 1%, ao mesmo tempo, a inflação deverá aumentar 2,5% no mundo. A AIPEX tem como atividade principal a promoção e captação de investimento interno e externo, portanto havendo a possibilidade de retração económica, causada pelos custos das matérias-primas como fertilizantes, cereais e bens primários para o sustento de qualquer sociedade, quanto mais a guerra durar, mais incerteza temos e mais preocupados ficamos, pois a incerteza impede as compras dos consumidores e os investimentos das empresas. 
A Ucrânia e a Rússia lideram sectores essenciais para a economia mundial, como o das commodities. Apenas no que diz respeito à produção agrícola, a Ucrânia é responsável por 16% de todos os embarques de milho e 12% das exportações de soja do mundo, havendo bloqueios como os que já são notáveis é quase impossível o nosso mercado económico, bem como o dos outros países não sentirem o peso deste conflito.

Quais os principais objetivos para os próximos anos?
Os investimentos são a base do crescimento de um país. É através deles que o país consegue garantir a geração de empregos, melhores rendas e qualidade de vida, os nossos principais objetivos passam por tentarmos garantir a boa imagem do país para atrair mais investimentos, aumentar o número de projetos de investimento privado, sejam eles nacionais ou estrangeiros, com vista a criação de mais postos de trabalho. 
T. Redação
F. Edson Azevedo