Os problemas ligados à importação de peças e às divisas estão ultrapassados?
Tivemos momentos muito difíceis em 2015 e 2016 em que o acesso às divisas era escasso, as operações simplesmente não saíam e, nessa altura, cheguei a ponderar o encerramento da atividade, porque chegamos a ficar mais de um ano sem fazer pagamentos ao nosso fornecedor (VA Portugal). Foi um momento muito complicado, que conseguimos ultrapassar pela relação de muita confiança com o Grupo Vista Alegre, que nos apoiou nesse período complicado. Como se costuma dizer, é nos momentos de dificuldade que conhecemos os nossos verdadeiros amigos, e foi nessa altura que percebi o real significado do termo «parceiro».
Hoje, infelizmente, voltamos a ter uma situação em que a kwanza está a sofrer desvalorização acentuada, as divisas são muito caras, situação que muito pensei que não fôssemos voltar a viver. Pelo menos não no nível que estamos. Confio e espero que a equipa económica consiga rapidamente dar a volta à situação, porque este é o nosso país e estamos aqui para fazer a nossa parte, que é criar emprego, contribuir para a geração de recursos para o Estado e dinamizar a nossa economia.
Aproveito este espaço, inclusive, para agradecer a toda equipa da Vista Alegre Portugal que nos tem acompanhado nestes dez anos, como o Dr. Carlos Costa, hoje Administrador do Grupo Vista Alegre, o Dr. Gustavo Amorim, diretor do mercado de África e, principalmente, ao Eng.º Fernando Nunes, o grande dinamizador desta parceria entre a Etosha Trading e o Grupo Vista Alegre.
Os serviços Samakaka Blue, Mixinda e Rosa de Porcelana são inspirados na cultura angolana. Qual a recetividade no mercado? Podemos esperar mais apostas idênticas no futuro?
As coleções de inspiração angolana foram um dos nossos maiores sucessos de venda. Tivemos a oportunidade de apresentar ao mercado louça com motivos da nossa cultura, com o selo de qualidade da Vista Alegre.
O Samakaka Blue e o Mixinda foram lançados na mesma altura, em 2015, e o Rosa de Porcelana, em 2018. A nossa intenção na altura era ter estas coleções por três anos, no máximo, mas a recetividade do público angolano foi tão boa que continuamos a produzi-las e só este ano foram descontinuadas. E sim, vamos ter novas coleções de inspiração angolana.
Dentro da estratégia de desenvolvimento empresarial são apoiadas várias iniciativas, como o Comité Paralímpico Angolano. Pode falar-nos da importância dessa ação e de outras de âmbito social?
A Seleção Angolana Paralímpica de Futebol foi nossa convidada num dos eventos que fizemos no âmbito da Agenda Cultural e, durante a preparação da participação, tive um contato mais próximo com o trabalhado desenvolvido pelo Comité Paraolímpico e também com os jogadores que, apesar de tantas dificuldades, estavam unidos e dedicados e dispostos a todo o tipo de sacrifícios em nome da equipa. Por isso, durante um ano, doamos 5% da nossa faturação a este Comité. Foi muito gratificante poder fazer alguma coisa por esses bravos heróis que levaram a bandeira de Angola tão alto e, no final, foram campeões mundiais.
Além disso, temos tido outras iniciativas de cariz social, como o apoio à Fundação Mulher Contra o Cancro da Mama.
Aprendi com a minha avó Laurinda Catuta que, por pouco que seja, é importante ajudar o próximo. E assim vamos fazendo a nossa parte, sem muito alarido.
É, desde o início, a cara da Vista Alegre em Angola. Quem é a Kanda Kassoma?
Tenho 46 anos de idade e sou mãe de quatro filhos, três rapazes e uma menina. Formei-me em Gestão de Empresas na Universidade de Middlesex, em Londres, e foi aí que ‘desabrochei’, porque tive muitas vezes de tomar decisões sobre a minha vida e o meu futuro sem a presença dos meus pais.
Após a conclusão da minha licenciatura, em 1999, retornei a Angola e fui trabalhar na Sonangol Distribuidora, onde viria a ter a minha primeira grande experiência de trabalho. Tive o privilégio de trabalhar com pessoas maravilhosas, que foram verdadeiros mentores. Foi na Sonangol que aprendi a trabalhar na realidade, porque a universidade abre a nossa mente para o aprendizado, mas é na prática, no dia a dia profissional, que de facto aprendemos. Depois de dez anos de Sonangol, mudei-me para o Huambo e aí comecei a dar os primeiros passos no mundo empresarial. Cometi vários erros, e aprendi com cada um deles.
Hoje, com 46 anos, lidero a Vista Alegre em Angola e também a Fazenda Tchissola V, em Luanda, onde produzimos manga. Portanto, com muita facilidade é possível encontrar-me um dia na Vista Alegre, no meio do brilho e do luxo dos cristais e porcelanas finas e, no outro, em cima de um trator.