Villas&Golfe Angola
· Gestor, Sócio Fundador MG Advogados e Músico
· · T. Joana Rebelo · F. Direitos Reservados

Manuel Gonçalves

«Lido (...) com áreas distintas, mas que partilham características comuns»

PMMEDIA Pub.
A voz melódica deu lugar à icónica Luanda, Meu Semba. O espírito inconformado, à carreira de advogado. Na verdade, as duas paixões não precisam de ser separadas por pontos finais, já que Manuel Gonçalves admite conjugar as duas áreas de forma complementar na sua vida. Durante algum tempo, o público conheceu-o como defensor dos interesses dos cidadãos, mas mal sabia que a música foi sempre a sua melhor companhia, desde tenra idade. Né, assim conhecido pelo público, canta hoje a memória coletiva de Angola, como uma beleza rara, difícil de encontrar. Em simultâneo, baseia-se em leis para tornar o país mais livre e equitativo. Uma fusão inspiradora, que o torna não só gestor das duas carreiras, mas maestro da sua própria vida.  

É advogado de formação, mas músico de coração. Como é que áreas tão distintas se cruzaram na sua vida?
A música apareceu quando tinha 7 anos, pelo que tive a minha primeira banda musical aos 9. Mais tarde, surgiu o direito e a advocacia e, neste seguimento, a condenação à conciliação, porque é impossível desfazer-me da veia musical que me corre no corpo. Hoje lido, por isso, com áreas distintas mas que partilham características comuns, já que ambas vivem da criatividade, disciplina e intensidade. Posso dizer que a música é a fonte de equilíbrio perante as exigências de uma profissão independente, mas bastante laboriosa e pressionada, condicionada por fatores institucionais externos que, inesperadamente, impõem uma multiplicidade de atos a praticar, em prazos muitas vezes sobrepostos. 

A advocacia é uma profissão chave para o funcionamento da sociedade. Como se encontra o ramo em Angola?
Atualmente, o exercício da advocacia é condicionado pelo ambiente de negócios, o grau de maturidade da implantação do estado democrático de direito e a qualidade do funcionamento das instituições administrativas e do sistema judiciário, mais especificamente, pelo modo como estes fatores impactam os direitos e interesses dos cidadãos e investidores do país. Daqui, decorrem os desafios e vicissitudes que os advogados globalmente enfrentam no seu dia a dia. 

Já passou por tantas empresas como cargos. Foi, inclusive, o primeiro bastonário da Ordem dos Advogados de Angola. Qual é o papel atual da instituição no país?
A Ordem dos Advogados de Angola continua a desenvolver uma atuação digna, assumindo um papel crucial na sociedade. É um dos maiores exemplos de democracia participativa, com eleições regulares que asseguram legitimidade institucional, encontrando-se a classe unida sob a liderança do Luís Paulo Monteiro. Combinar autorregulação profissional com a defesa dos valores do estado democrático de direito é uma das maiores virtudes do bastonário, destacando-se a ação para melhorar o ordenamento jurídico e a criação do ambiente crescentemente favorável à consultoria, à representação e ao patrocínio de causas. De igual modo, saliento a promoção da arbitragem, enquanto alternativa para a resolução extrajudicial de litígios comerciais e patrimoniais, e, ainda, a fiscalização da constitucionalidade das leis, esforço que, na prática, tem-se revelado eficaz, conquistando-se a alteração de leis em matérias bastante sensíveis.

«Advocacia é uma profissão cada vez mais reconhecida»
Fale-nos do seu gabinete de advogados e da sua missão enquanto gestor.
Depois de ter cumprido a minha missão como gestor, numa empresa pública de grande dimensão no ramo da gestão de riscos, regressei ao meu escritório de advogados, que é hoje uma sociedade. Foi uma transição quase perfeita, porque me permitiu utilizar a experiência de gestão e de intervenção de mercado, adquirida ao longo de treze anos, e exercer advocacia de negócios assessorando gestores, empresas e instituições que precisassem de aconselhamento legal nos mais diversos setores do direito público e privado.

A advocacia, nos dias que correm, é uma profissão devidamente reconhecida?
Diria que é uma profissão necessária para as empresas e para todos aqueles que dela dependem para estar em conformidade com a lei, assim como para evitar o risco de perturbações à estabilidade dos ativos patrimoniais e interesses pessoais. Advocacia é uma profissão cada vez mais reconhecida pela sociedade. 

E que importância tem a música na vida do povo angolano? 
O povo angolano envolve várias estruturas etnolinguísticas e culturais, em que a música, a par com a dança, se apresenta como um dos grandes fatores identitários. A música é a primeira referência simbólica da cultura angolana. 

Se algum dia tivesse de escolher entre a carreira de advogado ou de músico, por qual optaria?
Creio que o work-life balance não precise de ser tão castrador, impondo que uma das atividades seja egoisticamente exclusivista. Ainda assim, se a realidade me colocasse perante esse dilema, partiria do princípio de que advocacia é work e a música, mais do que isso, é life. A vida é o primeiro direito a defender-se e, em causa própria, passaria a ser o advogado do músico. 

Há mais algum talento que o público desconheça do Manuel?
Creio conhecerem a faceta de advogado e gestor de alta direção. Sou também cônsul honorário de um país no topo dos mais relevantes rankings mundiais, a Finlândia, e sou cantautor, dedicando-me à escrita de letras e compondo e interpretando canções que atravessam vários estilos musicais. Além disso, a cozinha e a fotografia são paixões insuperáveis. Quero referir, ainda, que há talentos invisíveis como o sonho. E eu sou, de facto, um incurável sonhador, principalmente, com o muito que posso fazer para tornar a sociedade num lugar melhor. Por isso, deixemos que os sonhos despontem e revelem talentos, no tempo certo.
T. Joana Rebelo
F. Direitos Reservados