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Natacha Massano

«O setor petrolífero tem particularidades hostis para o posicionamento da mulher»

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Natacha Massano nasceu e cresceu em Luanda, mas, mais tarde, foi conduzida até Inglaterra, por intermédio de uma bolsa de estudo que a levou a formar-se em Gestão e Controlo de Empresas. Hoje, Massano é mãe de três filhos e é Administradora Executiva da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG). Revela-nos que entrou no universo petrolífero há 26 anos, tendo iniciado o seu percurso na Sonangol P&P. Em jeito de reflexão, Natacha faz a ponte entre dois mundos: o da mulher e do petróleo. Permaneça connosco e descubra o que une e desune estas duas realidades no país angolano. 

Revele-nos um pouco de si. 
Sou casada, mãe de três filhos, nascida e crescida em Luanda, formada em Gestão e Controlo de Empresas pela Universidade de Salford, no Reino Unido, e, hoje, Administradora Executiva da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG). Trabalho no setor petrolífero há 26 anos. Comecei na Sonangol P&P e depois passei para a Sonangol EP. Já em 2019, com a mudança da função concessionária da Sonangol para a ANPG fui transferida para esta entidade. 

Como foi o percurso académico da Natacha?
Fiz todo o meu ensino preparatório em Angola, na Escola São José de Cluny. Fiz o ensino médio na especialidade de Matemática Física e, em 1991, ganhei uma bolsa de estudo para Inglaterra, onde me formei em Gestão e Controlo de Empresas, na Universidade de Salford. 

Em que contexto surgiu o mundo petrolífero na sua vida?
Em 1991, participei num concurso organizado pela Sonangol para bolsas de estudo. Fui selecionada e, conforme já mencionado, ganhei uma bolsa para estudar em Inglaterra. Terminada a minha formação, em 1996, regressei a Angola e fui trabalhar para a Sonangol, nomeadamente, para a sua subsidiária Sonangol Pesquisa e Produção. Fui integrada na Direção de Finanças como Analista de Contas do Departamento de Contabilidade. Em 1998, fui nomeada Chefe de Departamento de Contabilidade e, em 2008, Diretora de Finanças. Fiquei na Sonangol P&P até 2012, altura em que fui transferida para a Sonangol EP como Diretora de Economia das Concessões, cargo que ocupei até julho de 2018. Em agosto do mesmo ano, sou indicada para fazer parte da Comissão Instaladora da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, que veio a ser criada em fevereiro de 2019, no âmbito do processo de reorganização do setor petrolífero angolano. 

A força do trabalho no setor petrolífero continua a ser maioritariamente o sexo masculino, em Angola?
Sim. O setor petrolífero tem particularidades hostis para o posicionamento da mulher, desafio esse ligado, principalmente, ao contexto em que a atividade é desenvolvida. A população laboral é maioritariamente masculina, pelo que a integração das mulheres continua a estar aquém do desejável. Há três anos, o Ministério da Ação Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU) realizou um estudo sobre a Diversidade nas Organizações, com o objetivo de diminuir as barreiras e aumentar a inclusão de grupos sociais mais vulneráveis, tendo apurado que a participação da mulher no setor petrolífero rondava os 15% da força de trabalho, e, desta percentagem, apenas 9% ocupava posições de liderança. 

E tem crescido a representação da mulher no setor?
A representação da mulher tem crescido, porém ainda não é à velocidade desejável. Os dados estatísticos existentes mostram, claramente, que temos muito a fazer para garantirmos um futuro inclusivo e de equidade. 

«A representação da mulher tem crescido, porém ainda não é à velocidade desejável»

Será este um forte indicador de que Angola caminha para a consolidação da igualdade de género? O que ainda falta aperfeiçoar?
A indústria petrolífera angolana precisa de estar cada vez mais alinhada com os grandes objetivos do desenvolvimento sustentável, devendo continuar a trabalhar no fortalecimento de políticas de valorização do capital humano, dando oportunidade a todos na contribuição para o seu crescimento e desenvolvimento. Numa fase em que o mundo abraça o desafio da transição energética, sendo que ao nível do continente africano nos temos posicionado a favor de colaborações e soluções regionais, considero essencial integrar a agenda da participação da mulher na ordem do dia. 

A Natacha é a presidente fundadora da Muhatu Energy Angola, uma plataforma de network destinada a mulheres do setor petrolífero. Pode falar-nos um pouco do projeto e dos respetivos objetivos?
A Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), na qualidade de Concessionária Nacional, em coordenação com as mulheres do setor, constituiu uma rede de Mulheres na Indústria Petrolífera denominada Muhatu Energy Angola (MEA), cujo lançamento oficial ocorreu no dia 23 de novembro, em Luanda. A MEA é uma rede dedicada à promoção de oportunidades de carreira e desenvolvimento de liderança de forma inclusiva, tendo como protagonistas, e também público-alvo, mulheres ligadas ao setor petrolífero e que desenvolvem as suas atividades no país. A iniciativa tem como missão impulsionar, capacitar e dar visibilidade às profissionais para a sua ascensão a patamares de liderança no setor petrolífero, investindo no seu empoderamento, tendo como principais áreas de atuação a promoção da igualdade e equidade no ambiente de trabalho, a promoção de eventos para partilha de experiências, o desenvolvimento de um Centro de Excelência de Mulheres, bem como o engajamento e comunicação para uma cultura de maior inclusão no setor petrolífero. 
Para o efeito, a governação da Muhatu Energy Angola é assegurada por uma Comissão de Gestão com rotação de mandatos, que é composta por membros do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET), da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), da Associação das Companhias de Exploração e Produção de Angola (ACEPA), da Associação de Empresas Autóctones para a Indústria Petrolífera de Angola (ASSEA) e da Associação das Empresas Contratadas da Indústria Petrolífera de Angola (AECIPA). 

Complete. O futuro de Angola passa por...
Angola é o país do futuro e das oportunidades, mas é preciso termos sempre em mente que o futuro é já amanhã! Isso significa que é hoje que temos de dar o nosso melhor. É na nossa mão (angolanos) que está o futuro, somos nós que precisamos de acreditar em Angola e na nossa capacidade de fazermos muito mais e, sem dúvida, muito melhor por aquilo que é nosso: Angola. 

Celebramos o 13.º aniversário da revista Villas&Golfe, em Angola. O que representaram, para si, estes últimos anos na sua vida e no país?
Os últimos 13 anos foram de muitos desafios, de altos e baixos, em que todas as experiências serviram de pedras basilares para um presente sólido, maduro e de evolução, ainda que com muitos mais desafios, decisões difíceis de tomar e escolhas para fazer, na plena certeza de um futuro de contínuo crescimento e prosperidade!
T. Joana Rebelo
F. Direitos Reservados