Villas&Golfe Angola
· Gestora, PCA Academia BAI  · · T. Joana Rebelo · F. Direitos Reservados

Noelma Viegas D’Abreu

«Um gestor deve ter estabilidade e gerir as emoções com sabedoria»

PMMEDIA Pub.
A psicologia clínica representa parte da sua vida profissional, a par com a gestão e as finanças, dois universos que parecem não se misturar, mas que encaixam na perfeição na vida de Noelma. O empreendedorismo faz parte de si, assim como a capacidade de enxergar o mundo como ele é. Com falhas. Com valências. Um dom de quem sabe interpretar números e, sobretudo, ver além deles. Ser mulher está como um dos seus maiores privilégios, condição que a fez mãe e esposa. Pautar-se pelo humanismo é outra característica de que se orgulha, já que lhe permite lutar por um mundo mais empático e equitativo. Este é, por isso, o seu modus operandi: apostar no seu talento para ajudar quem precisa. 

Qual é a sua missão no país angolano, na perspetiva de cidadã e profissional?
Educar! Desejo ser, cada vez mais, uma contribuição para o desenvolvimento económico e social no contexto angolano e no mundo. Como psicóloga clínica, exerci durante uns anos, dei consultas e ajudei. Como gestora, o meu foco tem sido a melhoria das condições de vida das pessoas. Enquanto cidadã, procuro aprender todos os dias e ter a honestidade intelectual de não «replicar vozes da ignorância», muitas destas que nos inundam nas redes sociais como se semeassem verdades. Preocupa-me o estarmos focados no imediatismo, no parecer, no ter e não no ser. Então, tenho-me dedicado a estudar e a aprender para ser rigorosa e ética, preservando a qualidade do que transmito. Preocupa-me, ainda, a falta de profundidade sobre os temas, pelo que corremos o risco de estimular a criação de uma geração assente em valores frágeis e violentos, negacionista, contra tudo e contra todos. Tento que as minhas ações e palavras, sejam coerentes, com uma boa dose de serenidade, equilíbrio e princípios de paz e esperança. 

Ser mulher e empreendedora é tarefa fácil? 
É um privilégio ser mulher. Ser mãe é uma dádiva inerente a essa condição também. Ser esposa, com um marido e companheiro ao lado, é outro privilégio. Então, a criatividade, a disponibilidade para empreender e desenvolver projetos, sem frustrações e angústias, torna-se relativamente simples. Mesmo tendo este suporte familiar, claro que já vivi momentos de tristes surpresas, desde ouvir comentários sobre o meu vestido ou o salto alto até ao estar acompanhada por algum colega homem que seja, automaticamente, considerado chefe pelo género que representa. Acredito que a melhor forma de empoderar mulheres é educá-las para a valorização e a realização pessoal independente, transmitindo-lhes, desde meninas, o seu valor e como se devem apreciar. Em simultâneo, é necessário educar, fomentar e desenvolver nos rapazes uma masculinidade positiva, que se predisponha a olhar para a mulher como um par e de forma respeitadora, livre de competições e/ou superiorizações. 

«A educação tem um papel fundamental na redução de pobreza»
Assume o cargo de presidente do conselho de administração da Academia BAI desde 2022. De que modo tem contribuído para um futuro mais próspero da instituição e do país?
Eu fiz um caminho gradual de crescimento e promoção. Fui administradora-delegada até 2015, passei à categoria de presidente da comissão executiva em 2016 e tornei-me presidente do conselho de administração em 2022. Gosto de pensar e acreditar que o contributo surge da oportunidade que me foi dada pela liderança do BAI para gerir uma instituição que se preocupa com a formação, qualificação e educação. Em primeiro lugar, acredito que o meu maior contributo tenha sido o de formar uma equipa com valores comuns à cultura organizacional ou à cultura de uma marca que representamos. 
Tenho, por outro lado, a grata oportunidade de ter contribuído para tornar um sonho realidade. Com a equipa certa, composta por pessoas imbuídas nas mesmas crenças, valores e vontades, conseguimos desenvolver um serviço de formação profissional desenhado à medida, formação para executivos, gestão de  instituto superior que forma jovens licenciados e uma agenda cultural complementar. Diria que o meio milhão de formandos que já realizaram formações connosco, nestes 11 anos, desenvolveram competências técnicas e comportamentais que os tornaram profissionais mais competentes e eficientes, acabando por impactar positivamente no crescimento e desenvolvimento económico de Angola. Não nos podemos esquecer de que está cientificamente comprovado que a educação tem um papel fundamental na redução de pobreza, na redução das assimetrias sociais e na melhoria da qualidade de vida, e este é um objetivo essencial para as nossas vidas. É neste contributo que me quero inscrever. 

Angola já partilhará de uma cultura de valorização da educação e de consciencialização cultural ou haverá ainda um longo caminho a percorrer?
Acho que há, ainda, um longo caminho a percorrer, não só ao nível das condições materiais e das infraestruturas necessárias, mas também ao nível da formação de professores, desenho de programas e metodologias aceleradoras de aprendizagem. A média de idades da nossa população é de 17 anos, há muitos jovens para formar. Existe também a necessidade de dar maior atenção às meninas, combater o fenómeno da gravidez indesejada e melhorar as condições para a sua permanência no ano letivo.  

Considera que ao gestor também lhe é permitida a falha?
Se o gestor for o Chat GPT, claro que não! Mas, felizmente, não somos máquinas. Acho que a COVID-19 veio demonstrar que os gestores com maior sentido de humanismo foram aqueles que melhores resultados conseguiram alcançar com as suas equipas, apesar das circunstâncias. Muitos não falharam, porque assumiram medos, angústias e, ao partilharem, puderam contar com o contributo das equipas. Um gestor deve ter estabilidade e gerir as emoções com sabedoria, porque as pessoas precisam de saber com quem podem contar. Necessita também de saber escutar na hora certa. 

Começa a revelar-se essencial informar os líderes empresariais quanto ao impacto da saúde mental dos colaboradores na produtividade e nos resultados financeiros? 
Absolutamente! As situações de burnout são cada vez mais frequentes, assim como o suicídio, a depressão, as várias formas de assédio, as dependências e outras doenças mentais. É necessário valorizar estas situações, sobretudo num país que viveu tantos anos em clima de guerra, violência e instabilidade. A guerra afetou, direta ou indiretamente, as famílias e gerações angolanas. Tudo isto carece de muita atenção e os líderes devem valorizá-lo. 
T. Joana Rebelo
F. Direitos Reservados