Fala frequentemente das carências que existem no domínio alimentar. O que é preciso ser feito para reverter a situação?
É preciso um aumento da produção em todas as províncias, quer dizer, cada uma com o seu nível de produção, mas como dá quase tudo em todo o lado... Nós temos trigo, aqui no Sul, assim como milho e uma série de produtos, de forma que podemos criar condições para que todas as pessoas e, sobretudo, as crianças não sejam subnutridas. Angola pode vencer a subnutrição, com trabalho e com o apoio de educadores sociais e nutricionistas. Às vezes, as pessoas só não sabem o que fazer, mas têm de trabalhar, de cultivar, enfim, de conquistar. Não é o Estado que tem de dar tudo de mão beijada, nem a Cruz Vermelha. É essa a mensagem que eu costumo passar à juventude.
E no setor do petróleo, Angola está a par da matéria da sustentabilidade?
Eu, pelo menos, estou. A sustentabilidade é necessária, porque nenhum país vai continuar a crescer até 2030/2050, se não tomar em consideração a sustentabilidade. Bem, no tempo em que fui Ministra dos Petróleos, o petróleo não era o que representa hoje. Eu cheguei a ser ministra na altura em que o petróleo estava a 20 USD e o barril a 8 USD. Hoje, vi o petróleo a 78 USD. Portanto, quer dizer que há rendimentos que podem ser aproveitados em benefício de outros setores renováveis. E aí está um processo de sustentabilidade. Temos de passar para as novas energias, lentamente. A sustentabilidade ambiental tem de ser tomada em consideração a nível mundial, seja em países pobres ou ricos. Aqui, em Angola, felizmente, já se começou a apostar nas novas energias, com as centrais de energia solar. A energia fotovoltaica tem grande potencialidade. E podemos também ter energia do vento, já que temos uma zona deserta com muito vento. Podemos ter a energia das ondas... E a energia hídrica é possível com as barragens que temos. Portanto, Angola tem capacidade para entrar na sustentabilidade ambiental, mas de forma gradual, porque, claro, há sempre custos envolvidos.
Sente que o mundo tem estado atento aos passos que o país tem dado?
Sim. Angola tem dados passos significativos de mudança. Quando nós vemos um país como os Estados Unidos da América a aproximar-se de Angola e a fazer investimentos no país, percebemos que o mundo não anda a dormir. Temos também relações sólidas com a China, dado que é um país que nos ajudou num momento difícil da nossa vida. Angola, no pós-guerra, não teve resposta, nem da Europa, nem da América, e foi aí que a China deu passos significativos junto de Angola. Assim como a China, a América nunca nos deixou. A grande exploração de petróleo, nos primeiros anos em que fui ministra, era feita por parte de companhias americanas. Angola nunca deixou de ser vista como um país de futuro. E eu espero que as relações com Portugal se mantenham. É um país pronto e que, quer queiramos, quer não, é um irmão. Andamos sempre de braço dado com ele.
O que mais a inquieta, quanto ao futuro de Angola?
Tenho receio de pararmos de melhorar. Creio que temos de marchar a passos rápidos para o desenvolvimento e para as novas tecnologias. Ainda hoje estive a falar sobre a inteligência artificial, da qual eu tenho um pouco de medo, mas nós, realmente, não temos outro caminho senão acompanhar as novas tecnologias. Caso contrário, vamos passando para trás, como se fosse uma maratona. É muito bom que Angola acompanhe a maratona. Mesmo que não consiga chegar à frente, já ganha só pelo facto de entrar no desafio.
O que é que mais a assusta na inteligência artificial?
Assusta-me a ideia de que o nosso pensamento possa ser substituído por máquinas. Se calhar também já sou um bocadinho velhota e talvez não consiga interpretar bem estas coisas. Acredito que vá ser uma grande ajuda na vertente da medicina. Mas, mesmo assim, tenho algum receio. Talvez já não seja para o meu tempo. A inteligência artificial é como tudo, tem a parte boa e a parte má. A redução do emprego inquieta-me, por exemplo, embora se fale de uma nova filosofia de trabalho: o salário sem emprego. Ainda assim, o progresso pode conduzir-nos para o abismo, mas vamos vendo, pode ser que seja mais promissor do que pensamos.
Promoveu a história, a cultura, a educação e a economia angolana. Considera-se uma embaixadora do país?
Creio que sou uma embaixadora quando vou para o exterior fazer uma Expo, porque efetivamente levo tudo o que Angola tem de melhor. Levo a história, a cultura, as tradições, a gastronomia, a música, a dança, a pintura... Cheguei a ser convidada para embaixadora, mas recusei. Ainda assim, levo o país ao peito e faço o meu melhor para promover a diplomacia económica. Angola precisa de investidores sérios, que a ajudem a dar o salto qualitativo para o desenvolvimento.
«Angola precisa de investidores sérios»
Sabemos que para o golfe tem sempre algum tempo. O que mais a cativa nesta modalidade?
O golfe é parte da minha vida e eu digo-o com toda a franqueza. Comecei há cerca de 30 anos. Não sou uma grande golfista, mas adoro jogar. Sinto-me bem num campo de golfe, parece que aquilo a que chamamos depressão desaparece. Na edição do Villas&Golfe International Cup deste ano passei um sábado feliz, mesmo não tendo jogado. Não ia preparada para dar tacadas, mas o ambiente do golfe é sempre muito familiar. Todas as pessoas se dão, independentemente do cargo e da posição social. Somos todos golfistas quando estamos ali. É isso que me dá felicidade e, honestamente, tenho pena de não ter meios financeiros para transformar o campo de golfe de Luanda num campo similar ao do Mangais. Mas ainda tenho esperanças de que um dia encontrarei um investidor que me venha ajudar a transformar aquele campo golfe num verdadeiro campo, como nós gostamos de ver.
É a única na família ou já tem algum familiar que também gosta?
O meu falecido marido jogava comigo. Agora já influenciei um filho. E ainda sou capaz de puxar mais alguém. Talvez um neto. Porque golfe, parecendo que não, representa paz. Não é violento, aliás, é um desporto que nos dá uma certa liberdade e paz de espírito. Por isso, espero que a V&G continue por muito tempo com os seus torneios.
Além de amante do golfe e apreciadora de sapatos, sempre se refugiou nos livros. Sonhava até escrever uma obra sobre as Expos. Ainda espera concretizar esse desejo?
Espero concretizar, sim. Quero escrever sobre a história de Angola nas Expos, temos conteúdo muito interessante. Em todas as Expos há novidade, é um mundo de maravilhas, de aborrecimentos, mas também de satisfação. Tem sido uma fonte de inspiração e de motivação para a minha vida. Acho que me dá forças.
Como é um dia na vida de Albina Assis?
O meu dia a dia é de trabalho, porque também não consegui aprender a fazer outra coisa. Eu já tenho 77 anos, mas continuo a trabalhar e sinto-me bem a fazê-lo.
Que legado espera deixar ao país angolano?
Espero deixar a noção do que é realmente a formação e a educação, a par com o respeito pelo trabalho e pelos outros. Tudo isto dignifica e é daí que alcançamos o respeito em toda a parte do mundo. É pelo nosso comportamento e pela nossa forma de ser que granjeamos o respeito. Também confesso que nunca pensei chegar a esta idade e ser conhecida pelo mundo.