Villas&Golfe Angola
Alexandre Carreira

A importância da atividade seguradora no negócio industrial

Alexandre Carreira

João Vaz

Diversificação económica

João Vaz

Persistência de riscos e incertezas induzem a lenta recuperação da economia

Salim Cripton Valá

PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

Salim Cripton Valá

Moçambique tem sido fustigado, desde 2016, por uma conjugação de contrariedades, riscos e incertezas, que puseram à prova a resiliência do país, das suas instituições, dos seus mercados, do seu setor empresarial, e afetando negativamente a vitalidade das famílias. As consequências da crise económica global de 2008, da Crise das Dívidas Não Declaradas, das calamidades naturais que têm assolado o país, da instabilidade político-militar no centro do país e do terrorismo em Cabo Delgado, dos efeitos da pandemia da COVID-19 a partir de 2020, além da contração da procura global e da redução do preço das commodities que o país exporta, tem estado a provocar choques na procura e na oferta, detonando e fazendo atrasar todos os esforços que visam o desenvolvimento económico. Fatores conjunturais têm estado a abalar a já frágil estrutura económica prevalecente no país nos mais de 46 anos de independência.
Apesar das dificuldades económicas específicas de um país subdesenvolvido e ainda pobre, fatores como a instabilidade, as calamidades naturais e a COVID-19 vieram abalar seriamente os fundamentos da economia, contribuindo para atrasar ainda mais as iniciativas de diversificação da economia e da sua transformação estrutural através da industrialização. Em 2020, os setores de atividade económica, com exceção da agricultura, electricidade e saúde, registaram quebras acentuadas, mas, em 2021, a tendência geral foi de registo de um crescimento positivo, embora lento e titubeante. A recente vinda, para Moçambique, da plataforma flutuante da ENI com a consequente extração e exportação do gás a partir de 2022 é, per se, um sinal muito positivo no futuro da Era do Oil & Gas, sendo um sinal encorajador de esperança no futuro risonho do país, mas é preciso não inflacionar as expectativas no sentido de encarar o gás natural como a "Salvação de Moçambique”.
Num período economicamente complexo como foi 2020/2021, quando muitas empresas, em particular as PME, ficaram deprimidas e com dificuldades de  levar avante os seus projetos, a Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), apesar de não ter ficado imune às contrariedades e constrangimentos na economia nacional, procurou adaptar-se às novas circunstâncias, às vicissitudes e às novas realidades que emergiram depois do advento da COVID-19, procurando sempre estar em contraciclo em face das adversidades.
A evolução dos principais indicadores da BVM reflectem o esforço contínuo da instituição, da confiança dos agentes económicos no mercado de capitais, que se traduziram no volume de financiamento alcançado para a economia e no número de empresas admitidas à cotação nos dois anos do período de vigência da pandemia (3 empresas cotadas). Os indicadores da BVM em 2020/2021 expressam a crescente aposta dos empresários e investidores no mercado de capitais, ora vejamos: i) a capitalização bolsista, um dos mais importantes indicadores do mercado, passou de 102.139 milhões MT no final de 2019 para 119.860 milhões MT no final de 2021, um crescimento de 17,3%; ii) o rácio da capitalização bolsista passou de 15,1% em Dezembro de 2019 para 18,0% do PIB nacional actualmente, um incremento de 19,2%; iii) o financiamento à economia aumentou em 75,4%, ao passar para 124.760 milhões MT para os actuais 218.820 milhões MT (3.395 milhões USD); iv)  o volume de negociação teve um crescimento de 84,7%, ao passar de 5.100 milhões MT para 9.421 milhões MT; v) o índice de liquidez teve um acréscimo de 57,2%, ao variar de 5,0% para 7,9%. Outros indicadores como o número de títulos (161 em 2019 e 205 em 2021) e de titulares registados na Central de Valores Mobiliários (de 22.150 em 2019 para 23.568 em 2021), aumentaram 27,3% e 6,4%, respectivamente. O único indicador que apresentou uma evolução negativa foi o número de títulos cotados na BVM (-3,5%), dado que em 2019 havia 57 títulos cotados, e atualmente temos 55 títulos, muito embora o número de acções cotadas tenha subido 20%.
Depois da contracção económica registada em 2020 (-1,3% na taxa de crescimento), o ano de 2021 está a registar taxas de crescimento do PIB acima de 1,05%, prevendo-se que em 2022 esteja no patamar de 2,9%, que embora seja uma previsão positiva em relação aos dois anos anteriores, mas certamente está muito abaixo do potencial económico do país. O relançamento económico tão almejado para 2020 não será um processo linear e automático e vai ter de contar com o contributo de múltiplas áreas económicas, em que pontificam a agricultura, indústria extractiva, energia, serviços financeiros, industria manufactureira, construção, transportes, e o turismo, esta última área com o crescente controlo dos efeitos da pandemia da COVID-19 e a redução de focos de instabilidade.
Num contexto macroeconómico onde pairam ainda múltiplos riscos e incertezas, é um sinal positivo que o PIB no 3.º trimestre de 2021 tenha crescido 3,4%. Todavia, um crescimento económico mais inclusivo e sustentável vai demandar o prosseguimento e a aceleração das reformas estruturais na economia, o fortalecimento das instituições desenvolvimentistas, a melhoria crescente do ambiente de negócios e a necessidade de atrair mais investimentos e gerar empregos de qualidade. Na verdade, o ano económico de 2022 poderá ser melhor que o de 2020 e 2021, mas não muito melhor, e aí existe a oportunidade concreta da BVM incrementar substancialmente a sua contribuição no relançamento da economia muito abalada pelas diversas crises dos últimos anos.